Não
importa o ramo de atuação de uma empresa, ela jamais será capaz de prever todos
os desejos de seus clientes. Uma vez eu fiz um traço de concreto com pequenas adições
de elementos como carvão vegetal, cal e enxofre, porque o cliente precisava de
um radier que melhorasse o “Feng Shui” do terreno onde sua casa seria construída.
Já vi sucessivas amostras de concreto colorido serem rejeitadas por um cliente,
até que ele escolheu, radiante, o concreto sem pigmento algum. Já participei de
uma reunião onde tínhamos a intenção de pedir desculpas por um trabalho
fracassado e vimos o cliente se emocionar de satisfação ao ver o resultado. Já
fiz um traço as oito da noite de uma sexta feira de fck 21 MPa, mesmo já havendo
disponíveis os fck 20 e 22. E, principalmente, já ví muitas responsabilidades
serem adicionadas a uma especificação durante uma conversa, devido a
necessidades que o cliente não sabia que tinha.
A
engenharia civil, sobretudo em seu casamento ancestral com a arquitetura,
possui um viés artístico muito forte, tentando conviver com necessidades estritamente
industriais. Por isso a customização é uma constante para quem trabalha com
concreto. Mas às vezes, o sentido desse vetor se inverte e é possível estimular
a criatividade artística dos construtores, a partir de produtos inovadores
desenvolvidos em concreto. Uma breve visita a um laboratório de pesquisa de uma
concreteira e um engenheiro ou arquiteto pode sair de lá com uma ideia para
agregar valor ao seu empreendimento. E cada dia mais a sociedade é mais
preocupada com o design, a moda e a estética, fazendo surgir demandas incomuns
para indústria do concreto.
Recentemente
fui presenteado pelo corpo de diretores da empresa onde trabalho (um mimo que
me deixou profundamente honrado, preciso confessar) com a Biografia encomendada
de Steve Jobs. Ele foi um cara que, a despeito das suas enumeras falhas de caráter
e temperamento, era um exemplo de paixão pela inovação e pelo design de
produtos. E quanto mais eu leio o livro, mais claro se torna pra mim o conceito
de que um produto precisa atingir simultaneamente a razão e o coração do
cliente. Pra que ele compre é preciso conquistar o seu coração. Para que ele
continue comprando, é preciso demostrar racionalmente a qualidade do produto.
Isso vale para apartamentos, softwares, viagens de turismo e, porque não,
concreto.
Quando
um cliente visita o Laboratório onde trabalho e vê, por exemplo, o concreto permeável
em ação, toca nas amostras, pisa sobre o protótipo, vê a água passando pelo
concreto maciço, identifica as possíveis texturas e cores, a relação que ele
está tendo com o produto é diferente do que se espera quando se fala “apenas”
de concreto. E quando percorremos os equipamentos os diferentes tipos de testes
e ensaios especiais, as matérias primas, as pessoas envolvidas no
desenvolvimento, a empolgação de quem mostra o serviço que esta realizando... Esta
relação atinge um nível ainda mais sólido, motivado pela surpresa e pela confiabilidade.
Steve
Jobs costumava dizer que não fazia pesquisas de mercado, porque não queria
saber qual o desejo do cliente, mas desenvolver nele um desejo completamente
novo (bom, ele na verdade usava termos menos educados). Ele também era obcecado
pela relação física do cliente com o produto. Ainda falando de concreto
permeável, me lembro do lançamento de um produto da companhia nesta linha, que
foi feito na Casa Cor, um evento extremamente voltado para esta experiência sensorial
com os produtos. Lá, as pessoas olhavam, depois caminhavam sobre o concreto e
por fim se abaixavam para tocar com as mãos e invariavelmente faziam uma pergunta
típica de alguém que jamais havia visto aquilo. Fiz questão de participar como
um expectador, para poder interagir com as pessoas que visitavam a instalação,
que consistia em uma fonte onde a água caia diretamente sobre o concreto e
desaparecia, em um projeto paisagístico muito bem elaborado e colorido. E o que
pude observar é que as pessoas não estão esperando inovações quando o assunto é
concreto:
_Oque
é esse material?
_Eu
“acho” que é concreto – Dizia eu._Como assim concreto? Você quer dizer, concreto, concreto mesmo?
Hydromedia, um novo conceito em concreto permeável
É
muito bom trabalhar com inovação, passar os dias preocupado em como fazer a
mesma coisa de uma forma totalmente diferente. Como superar as expectativas, como
estabelecer uma escala de valores diferente para um produto tido como tão “igual”
e como criar diferenciais realmente relevantes para os clientes. São problemas
muito estimulantes e gratificantes. Não vejo a hora de chegar a segunda
feira...
P.S.:
Prometo voltar aos temas técnicos no próximo post!
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