quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Slump máximo do concreto: Um pequeno e eficiente freio no desenvolvimento



 

Não se pode negar que a maior parte das tentativas de inovar na tecnologia de se produzir concreto, passa de alguma forma pela aplicação de aditivos especiais. E a pressão pela inovação é cada vez maior no mercado da construção civil e diversos são os fatores a pressionar: É preciso reduzir as emissões de carbono, então quanto mais performance se obter de dosagens menores de cimento, melhor. É preciso reduzir os custos de produção, é cada vez mais difícil e caro se extrair e transportar matéria prima e o concreto hoje chega cada vez mais longe dos centros urbanos. É preciso melhorar a produtividade das construtoras, com os prazos cada vez mais curtos e a mão de obra cada vez mais cara, mostrando que nosso pais está saindo de vez do terceiro mundo. É preciso lançar o concreto cada vez mais alto, cada vez mais profundamente, cada vez mais longe. É preciso dar um grande passo evolutivo, abandonando velhos conceitos, da mesma maneira que abandonamos no passado a fila de carrinhos de mão na porta dos elevadores, a décadas atrás, e passamos a bombear o concreto.

 
E um velho conceito que, na minha opinião, se interpõe no caminho desta evolução é a exigência do slump máximo. Hoje, quando uma construtora adquire concreto, define-se o slump de lançamento a ser estabelecido em contrato e a respectiva faixa de variação, em centímetros, para mais ou para menos. 6+-1 cm, 10+-2 cm, 16+-3 cm, etc. Se por acaso um concreto com slump de projeto definido em 10+-2 chega na obra com slump 13, 14 cm ele será rejeitado e devolvido para a concreteira. Isso se dá porque, se o slump é superior ao determinado, há uma grande chance de que se tenha colocado mais água do que o limite, comprometendo assim o fator água / cimento e consequentemente a resistência mínima a compressão.

 Mudanças de paradigmas ainda são difíceis na construção civil
 
Ora, quando se trata de concretos convencionais, que usam aditivos plastificantes comuns ou apenas retardadores de pega de origem orgânica, baratos e sem grandes perspectivas, isso é bem verdade. Mas isso criou uma inversão de responsabilidades muito importante. Ora, se você Construtor está adquirindo o concreto de uma grande empresa fornecedora, Acha que quem deveria se preocupar e se certificar da resistência e qualidade do concretoé você? Será mesmo sua função participar do controle de qualidade da concreteira a ponto de inferir na dosagem de água e na proteção do fator a/c? Será que o slump máximo é, então, um item imprescindível para o controle de recebimento do concreto?

 
Estas perguntas são respondidas hoje com um sonoro “SIM”, porque vivemos em um ambiente em que o cliente não confia na prestação de serviço da concreteira. E muitas vezes a concreteira que não é comprometida com a qualidade se faz valer desse controle feito pelo cliente, no local da entrega, para economizar no seu próprio quintal. Quem for lá na companhia onde eu trabalho verá um setor inteiro dedicado ao controle do fator a/c durante a produção com maquinário, instrumentação e funcionários específicos e tudo isso custa dinheiro. Mas é preciso restaurar a confiança na parceria cliente / concreteira e eu digo porque:

 
Se hoje nós temos aditivos superplastificantes a cada dia mais capazes de se obter grandes performances de trabalhabilidade e resistência mecânica dos concretos, porque usamos eles apenas em casos especiais? Porque não usamos no fck 25,0 ou 30,0 comuns que preenche a grande maioria das vigas e lajes por aí? O principal motivo, na minha opinião, é a manutenção de plasticidade. Ou seja, o tempo que o concreto permanece com slump acima do limite mínimo. Observe abaixo os resultados do ensaio de slump ao longo do tempo do mesmo traço de concreto, apenas mudando a dosagem de um determinado aditivo (de próxima, não última, geração):

 
Baixa dosagem de aditivo:

 
Tempo           Slump
T 0                100 mm
T 30 min        80 mm
T 60 min        70 mm
T 90 min        60 mm

 
Dosagem de aditivo ligeiramente maior:
 

Tempo           Slump
T 0                180 mm
T 30 min        170 mm
T 60 min        160 mm
T 90 min        155 mm

 
Observe como a manutenção de plasticidade é muito mais eficiente quando se trabalha com slumps maiores, concretos mais plásticos. E neste segundo caso, mesmo com a dose maior de um aditivo caro, o custo é muito similar a um concreto comum de slump 9+-1 cm que usa aditivos normais. O problema é a imprevisibilidade do slump inferior. Ora, se a temperatura muda, o tempo de transporte varia, o concreto poderá chegar com slumps diferentes à obra. A única maneira de se trabalhar nestas condições era estabelecer um limite mínimo de slump, deixando o limite máximo livre, uma vez que se sabe que o fator a/c não está sendo alterado, apenas a manutenção de plasticidade mudou com as condições de contorno. Isso é bem fácil de acordar em uma situação especial mas para o concreto comum do dia a dia demandaria uma mudança comportamental muito grande.

Obra realizada com concreto Agilia, sem definição de slump superior, sem vibradores, sem barulho, sem vazios de concretagem, sem perda de tempo.

 
Claro que situações específicas, exceções, seriam tratadas como exceções, mas se você precisa na obra de um concreto com slump mínimo de 10 cm e ele chega com 15, 16, 17 ou 11, que diferença faz (não sendo um piso industrial, por exemplo)? Se a concreteira garantisse pra você a resistência e o a/c, apesar da variação de slump, que mal isso traria? Percebi que no mercado europeu, especificamente o francês que tive a oportunidade de conhecer melhor, isso já acontece. O cliente quer saber do slump mínimo: “Deu mais de 10? pode lançar”. O resultado é um uso generalizado de aditivos superplastificantes e uma naturalização dos concretos fluidos e autonivelantes, sem que isso signifique custos mais altos, necessariamente.

 
Acho que está na hora de parar de subestimar a tecnologia de concreto no Brasil e começar a abandonar os fck 20 slump 10 e começar a mirar no Concreto de alto desempenho, no autonivelante, na alta resistência inicial. Obter ganhos financeiros ainda na prancheta do projetista e não apenas no telefone do departamento de compras. Trazer a tecnologia de concreto para a fase de planejamento. Escolher bem a concreteira que vai te atender, valorizar a confiabilidade acima do preço por metro cúbico. Assim vamos aos poucos criando um ambiente progressista que permitirá o salto de evolução que a técnica atual já admite.

 
Forte abraço!

 
 
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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Resistência à compressão do concreto: Um teste de diversas interferências





Esta semana, lá na Companhia, tive a gratificante oportunidade de ministrar um pequeno treinamento para novos profissionais que atuarão como balanceiros de diversas centrais dosadoras de concreto. O balanceiro é, de longe, um papel fundamental no sucesso de uma concreteira, na qualidade de produto, controle de processo, logística, atendimento ao cliente, enfim, é um dos atores principais. Para ilustrar nossas atividades naquele dia, eu havia preparado (com a inestimável ajuda dos meus amigos do Laboratório Regional) uma série de corpos de prova para demonstrar dois fatores que podem levar a uma interpretação equivocada dos resultados de resistência à compressão de corpos de prova cilíndricos de concreto.

 
O primeiro deles é a adição indiscriminada de água que, infelizmente, é um problema recorrente nas obras. Normalmente, ocorre de se decidir por um concreto de slump menor, pensando no custo do concreto isoladamente e quando chega o momento da execução as dificuldades de concretagem aparecem. Ao invés de se interromper o trabalho e se decidir por uma nova formulação, com slump maior, o que acaba ocorrendo é a adição de água para além dos limites da tabela de traço. Este é um tema sempre abordado em treinamentos, procedimentos e relatórios mas, confesso, nunca tinha realizado um experimento específico para medir este efeito. O que eu tinha eram dados teóricos deduzidos de experimentos de laboratório para outros fins.

 



Então, tomei um concreto fck 30,0 MPa e dele moldei 5 corpos de prova. O primeiro moldei na condição de slump ideal, recém saído do processo de carregamento. Depois, adicionei dosagens de água suplementar diversas, de 10 a 40 litros por metro cúbico de concreto. Na data do treinamento eles estavam com a idade de 12 dias e todos tinham sido mantidos nas mesmas condições até o momento da demonstração. Os resultados dos ensaio de resistência à compressão foram:

 
Condição
fc12d (MPa)
Agua do traço
27,7
+10 l/m³
24,8
+20 l/m³
22,4
+30 l/m³
22,3
+40 l/m³
19,1

 
Obviamente este é um teste isolado, feito em um corpo de prova para cada situação e sem suporte para uma análise estatística. Mas cumpriu bem sua proposta, que era sensibilizar para o grave efeito da adição excessiva de água na obra. Salvo o quarto CP, com resultado anômalo, cada 10 L de água custou entre 2 e 3 MPa de resistência. E cada 10 L de água por m³ é apenas o suficiente para elevar o slump do concreto em cerca de 2 cm!

 
O segundo aspecto explorado na demonstração foram os defeitos de moldagem de corpos de prova. Da mesma amostra de concreto com água correta do traço, tirei outros quatro corpos de prova com defeitos deliberados: Um foi deixado inclinado, de modo a prejudicar o paralelismo entre as faces. Outro foi moldado de uma amostra segregada, com menor concentração de brita que o concreto ideal. Em outro foi eliminado cerca de 20% da área de contato da face superior. E o último foi moldado sem a aplicação de golpes com a haste de compactação.

 


Corpos de prova defeituosos

Abaixo, os resultados:
 

Condição
fc12d (MPa)
Padrão
27,7
- 20% de área
29,6
Segregado
16,4
Inclinado
23,5
Sem adensamento
18,4

 
Mais uma vez, o reduzido número de amostras prejudicou um resultado, afinal quando se elimina a área de contato de um corpo de prova com a prensa não é de se esperar que o resultado seja maior. Mas oura vez foi possível demonstrar que os erros mais comuns de moldagem afetam de forma muito expressiva os resultados. Afinal, não é incomum se observar corpos de prova tortos, com vazios por falta de adensamento, com marcas de dedo na face superior ou coletados de uma amostra de concreto não representativa.

 
Fica então esta ilustração de dois problemas que são motivo de grandes preocupações, até hoje, no controle tecnológico de concreto. Um prejudica a qualidade do material. Outro, prejudica a qualidade do ensaio que deveria medir a qualidade do material. Observem como os erros de moldagem do CP podem levar a perdas mais severas até que a alteração do fator água / cimento. Em breve, vamos ter aqui um brilhante texto do Prof. Esdras de França, tratando do tema dos corpos de prova de uma forma mais completa e com a costumeira genialidade do mestre.
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terça-feira, 15 de outubro de 2013

O que se move, é a atitude!


 

A pouco mais de um ano, meu grande amigo Marcelo Singulani me convidou para receber orientação profissional através de um processo de coaching. Em pouquíssimo tempo essa oportunidade mudou minha vida. Me fez descobrir meus verdadeiros objetivos, me mostrou meus maiores erros e como fazer para supera-los. Este blog, inclusive, talvez não existiria, não fosse por suas orientações. No texto abaixo, o Marcelo se dirige a nós técnicos, que temos a perigosa tendência de nos esconder no interior de nossos laboratórios. Ele é um dos maiores tecnologistas de concreto do Brasil, formado pelo CEFET MG, com mais de onze anos de experiência em diversas concreteiras, construtoras e empresas de tecnologia. Hoje atua com desenvolvimento de projetos especiais em aditivos para concreto e presta consultoria para quem se interessa em crescimento profissional e na saúde organizacional de sua empresa.

 

O conhecimento é uma betoneira parada, o que move é a atitude
 

Setenta e cinco por cento do nosso corpo é água, mas você não precisa ficar deprimido. Na parte mais alta temo uma massa esbranquiçada e gelatinosa cujo peso oscila em torno de 1300 g e a natureza, sempre tão sabia, decidiu proteger com uma caixa hermética e duríssima, um autêntico abrigo ósseo.

 
E essa coisa fascinante chamada cérebro nos permite um incontrolável desenvolvimento tecnológico, cientifico e material, bem como a hiper-oferta de crenças, filosofias, bondades e maldades que nos envolvem, tudo isso tendo origem na capacidade de pensar. E o melhor de tudo é Grátis!
 

Você provavelmente começou a ler este texto pela vontade de expandir a mente, de ler e avaliar se esse artigo é ou não interessante dentro da sua perspectiva. E nisso posso dizer que somos parecidos, pois este blog está recheado de textos do mais alto calibre técnico, ou seja, temos a mesma vontade e expandir, de crescer, de evoluir e para isso vamos utilizar bastante nosso cérebro.

 
Muitos dos textos deste blog são recheados de conhecimento técnico e acredito que algumas coisas são de conhecimento comum e outros mais específicos são para poucos. O importante disso tudo é que são habilidades de tecnologistas de concreto (dos bons pelo menos).
 

Sou tecnologista e já atuo nessa área há quase 14 anos e já vi muito cara bom escondido, ou melhor, subsistindo dentro do laboratório, engenheiros com boa experiência, com ótima capacidade técnica, mas completamente esquecidos ao lado de suas agulhas de proctor, blaines e provetas, com um mundo girando ao redor chamado betoneira.

 
A maioria desse feras, admiram e enxergam com bons olhos os tecnologistas famosos da ABCP, do IPT, da UFMG e da PQP. Viajam para assistir suas palestras, correm nas livrarias para comprar seus livros, mas aos poucos percebem que em diversos campos o "endeusamento" não pode acontecer. Todos têm muito a mostrar e se escondem como bichos amuados em suas pesquisas megapascais.

 
Nesse momento gostaria que vocês pensassem no que querem: Preferem ser conhecidos ou reconhecidos? Independente da escolha, você precisa tomar algumas decisões, precisa se mostrar. A vida é uma venda, sem ser piegas e capitalista, apenas tipicamente pragmático. Tem que ir para a vitrine, senão encalha no estoque. Mostre todo seu potencial, seu talento como tecnologista. Você tem os recursos necessários para produzir e conduzir seu percurso. Para isso é necessário produzir algumas mudança duradouras em seu ambiente de trabalho, dentre as quais acredito ser as três a seguir:
 

1) Eleve seus padrões: Escreva suas metas, veja o que aceita e o que não aceita mais em sua vida, pense nas pesquisas que quer fazer, nas otimizações que quer implantar, nas rotinas de trabalho pra ganhos de tempo, produtividade, dinheiro, etc.
 

2) Elimine suas crenças limitantes: O ponto forte é acreditar em si mesmo, nada de pensar negativamente, acredite no seu potencial, nada te impede de ir além, pare e respire durante o dia usando seu precioso cérebro, veja o que precisa para alcançar as metas que você se impôs. Quais as atitudes e posturas para ir rumo ao objetivo

 
3) Mude suas estratégias: Agora que já sabe onde quer chegar, trace um plano, uma estratégia para se alcançar os objetivos. Veja o que é necessário para que as próximas atitudes tenham um forte impacto positivo sobre o alcance de suas metas. Uma maneira muito eficaz é ver quem já fez, quem errou e quem acertou, nada de reinventar a roda, aperfeiçoe o que já existe.

 
Além de tecnologista também sou Coach e tenho ajudado muitos a descobrirem seus verdadeiros talentos, suas aptidões e consequentemente prazer e sucesso profissional. Basicamente ajudo as pessoas a tomarem melhores decisões, pois o que mais impacta no nosso futuro profissional e pessoal são as ações sistemáticas que tomamos e não as atitudes que surgem de vez em quando. São as decisões e não as condições de vida que determinam nosso destino.



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Marcelo Singulani


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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Respondendo ao Leitor: Qual o tempo de utilização do concreto?



 

O meu bom e recente amigo Gleyber, formando do curso de Engenharia Civil da Escola de Engenharia Kenedy, em Belo Horizonte, me fez uma pergunta muito importante a algumas horas, precedida da seguinte colocação:

 
“...o tempo correto de lançamento de um concreto usinado ( convencional), conforme a NBR 7212 é de 150 min ou 2 H e 30', após a 1ª adição de água...Porém é comum escutar de alguns motoristas de betoneira que é de 3 Horas. “

 
Já deu pra adivinhar a pergunta, não é? Afinal, qual é o tempo de “validade” do concreto? Seguir a norma, nestes casos é muito bom. Mas é ainda mais importante entender exatamente os processos que levam à deterioração da qualidade do concreto, devido à demora na aplicação. O concreto é um material perecível, todos sabemos. Mas entender os motivos é imperativo para uma boa tomada de decisão. Basicamente, dois são os motivos pelos quais ele perde a sua “validade”:

1.    Início de pega;

2.    Perda de plasticidade.

Ensaio de Vicat, para determinar o tempo de pega


O início de pega é o momento em que se iniciam as reações de cristalização do cimento. Neste momento, os grão de cimento que estavam sendo lentamente hidratados começam a passar por uma reação química onde os compostos de Silicatos e Aluminatos de Cálcio se desassociam, se recombinam com a água e se transformam em estruturas cristalinas como os Hidróxidos de Cálcio e as Etringitas. Essas reações são chamadas de “Pega”. Neste momento, a pasta de cimento começa a literalmente endurecer. Se, a partir do momento do início de pega o concreto for misturado, lançado e vibrado, as reações serão prejudicadas e o cimento só atingirá parcialmente seu potencial de resistência. Isso é muito perigoso, levando a redução muito significativa no valor dos ensaios à compressão. É fácil observar os sintomas da pega no concreto, porque esta é uma reação exotérmica, ou seja, gera grande quantidade de calor.

A perda de plasticidade é o fenômeno de progressiva redução do slump com o tempo. Ou seja, o concreto vai se tornando mais e mais consistente, menos fluido, menos trabalhável. No caminhão betoneira, isso pode acontecer devido à evaporação natural da água ou devido à perda de eficiência do aditivo. Praticamente todos os concretos vendidos por concreteiras possuem determinadas dosagens de aditivos “Plastificantes”, capazes de reduzir a necessidade de água do concreto. Estes aditivos fazem com que o slump suba pela ação de processos físico-químicos que têm ação limitada no tempo, ou seja, quando acaba o tempo de ação do aditivo o concreto volta a ter o slump anterior à adição do aditivo.



Neste ponto, fica mais fácil entender bem o processo e suas limitações. O tempo de pega, que é característico do tipo e marca do cimento, pode ser facilmente prolongado pela ação de aditivos retardadores de pega, também largamente usados em toda concreteira. O principal problema está na perda de plasticidade. Hora, se o concreto chega na obra com slump 12 cm, por exemplo, e cerca de uma hora e meia depois ele está com slump 5, não há problema algum em continuar usando, se o tempo de início de pega ainda não foi atingido. Mas será que alguém realmente continua lançando com 5 cm? Ou será que se coloca mais água pra recuperar a plasticidade original?

É aí que está o perigo. Quando o efeito do aditivo é substituído por água, obviamente o fator a/c será sensivelmente alterado, comprometendo a resistência. Então o tempo limite de uso do concreto deve ser definido de acordo com todo o conjunto de fatores relevantes:

·         Tempo de pega, segundo o efeito do tipo de aditivo;

·         Tempo de manutenção de plasticidade permitido pelo aditivo. Entende-se por manutenção de plasticidade a obtenção de, pelo menos, o limite inferior do slump;

·         Clima e horário da concretagem. Temperatura, umidade do ar, exposição ao sol, tudo isso corrobora para mudar o tempo de validade do concreto;

·         Critérios de produtividade de equipamento. Algumas vezes torna-se economicamente inviável a permanência do betoneira por longos períodos;

Então, meu caro Gleyber, infelizmente não posso responder à tua excelente pergunta. Ela deverá ser direcionada ao Tecnologista da Concreteira. Só ele conhece o traço, os aditivos, o tempo de pega do cimento. Só ele realiza o experimento de laboratório, mede a perda de plasticidade. Só ele conhece os coeficientes de segurança e os critérios de produtividade de máquina. Se o teu caso for especial, solicite a ele um traço e um processo de concretagem que atenda ao tempo prolongado requerido pela tua obra. Agora, se você não obtiver uma resposta satisfatória, ou se sentir inseguro, siga a norma. É teu direito. Espero ter sido útil a você e demais colegas leitores. Forte abraço!

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

MÓDULO DE ELASTICIDADE: A VISÃO DA CONCRETEIRA - POR ESDRAS DE FRANÇA

 
 





Como se não bastasse a excelente entrevista, carinhosamente concedida ao Blog do concreto na postagem anterior, parece que nossa parceria com o Mestre Esdras de França está longe de terminar. Ele ainda nos brindará com dois excelentes artigos técnicos, cujo primeiro segue aqui, na íntegra. Eis então nosso segundo convidado de honra, com um tema de grande interesse: A relação não linear entre a resistência à compressão e o módulo de elasticidade do concreto. Relação que a normalização insiste em tratar como uma linha reta. Aqui ele apresenta uma proposta muito simples e genial de solucionar a questão para quem precisa calcular, especificar ou comprar...

 

MÓDULO DE ELASTICIDADE – A VISÃO DA CONCRETEIRA

Nos dias atuais é comum encontrarmos especificações de projeto contendo exigências de módulo de elasticidade. Na maioria das vezes o valor adotado é obtido, simplesmente, com o uso da fórmula contida na NBR 6118:2003

Uma simples e rápida análise da formulação proposta pela NBR 6118:2003 nos leva a concluir que a relação única, direta e proporcional com a resistência características (fck) pode e geralmente induz a erros, por vezes significativos, de estimativa do módulo.

A própria Norma, de modo indireto, em seu item 8.2.8 Módulo de Elasticidade, reconhece e admite essa possibilidade ao afirmar:

“O módulo de elasticidade deve ser obtido segundo ensaio descrito na ABNT NBR 8522, sendo considerado nesta Norma o módulo de deformação tangente inicial cordal a 30% fc, ou outra tensão especificada em projeto. Quando não forem feitos ensaios e não existirem dados mais precisos sobre o concreto usado na idade de 28 d, pode-se estimar o valor do módulo de elasticidade usando a expressão.”

 
Eci = 5600 fck (módulo tangente Inicial)

 
“O módulo de elasticidade secante a ser utilizado nas análises elásticas do projeto, especialmente para determinação dos esforços solicitantes e verificação de estados limites de serviço, deve ser calculado pela expressão:
 

Ecs = 0,85 Eci

 
A livre interpretação do texto normativo nos leva a concluir que o módulo adotado deve ser preferencialmente obtido por meio de estudos experimentais e na impossibilidade de estudos laboratoriais a norma admite o valor encontrado de modo teórico.

Ora, como é possível para o responsável técnico pelo projeto definir o módulo real do concreto se a obra ainda nem começou e, na maioria das vezes, não tem conhecimento se o concreto será virado em obra ou será pré-misturado, passando pelas condições de armazenamento, mistura, transporte, lançamento, adensamento, acabamento e cura, tipo e dimensões dos materiais componentes. Desconhecendo, também, o nível do controle de qualidade a ser adotado?

Neste caso não resta outra opção para o projetista a não ser adotar o valor do módulo teórico.

Alguns tecnologistas, mesmo não concordando, aceitam o fato até com certo alívio visto que o texto da famosa NB-1-78 era ainda mais irreal que o atual por adotar uma formulação ainda mais distante da realidade:

 
Eci = 6600 fcj
 

A revisão bibliográfica de diversos pesquisadores demonstra um elevado nível de concordância nos parâmetros que podem influenciar para mais ou para menos os valores de módulo, a saber:

·         Teor de argamassa do concreto;

·         Dimensão máxima do agregado graúdo;

·         Composição mineralógica da rocha;

·         Porosidade do concreto;

·         Fator A/C;

·         Resistência Característica;

·         Uso de adições;

·         Uso de aditivos;

·         Condições de cura;

·         Condições de ensaio.

Por sua vez os especialistas em Ciência dos Materiais não abrem mão da densidade como um parâmetro que não pode, em nenhuma hipótese, ser omitido em formulações envolvendo módulo de elasticidade.

Considerando-se o grande número de variáveis que podem interferir, com maior ou menor intensidade, na definição do módulo de elasticidade, seja tangente seja secante, e na falta de uma formulação teórica que possa contemplar essas variações. Considerando-se que os valores de rigidez dos elementos de uma estrutura são fortemente impactados pelo módulo de elasticidade secante e o momento de inércia da seção bruta do concreto e, também, por aspectos de fissuração e fluência do concreto.

Apresentaremos a seguir, para garantir uma maior rigidez das estruturas e minimizar os casos de deformação excessiva das peças, apenas como sugestão, fatores de minoração que poderiam ser adotados durante o dimensionamento das estruturas:

 

Fck (MPa)
Fator de Minoração
Eci (GPa)
Proposta
Eci (GPa)
NBR 6118:2003
20
0,950
23,8
25,0
25
0,925
25,9
28,0
30
0,900
27,6
30,7
35
0,875
29,0
33,1
40
0,850
30,0
35,4

 

A adoção dos valores propostos poderia, além de garantir uma maior estabilidade das estruturas, evitar conflitos comerciais existentes entre empresas de serviços de concretagem e construtor. Os primeiros não aceitando associar automaticamente resistência caraterística e módulo na formulação em suas planilhas de custo e os segundos não aceitando propostas comerciais que façam distinção entre fck e módulo.

 

Eng.º Esdras Poty de França

Consultor Técnico em Tecnologia do Concreto
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Concreto: Propriedades, descobertas e casos interessantes Copyright © 2011 | Template design by O Pregador | Powered by Blogger Templates