Esta
semana, lá na Companhia, tive a gratificante oportunidade de ministrar
um pequeno treinamento para novos profissionais que atuarão como balanceiros de
diversas centrais dosadoras de concreto. O balanceiro é, de longe, um papel
fundamental no sucesso de uma concreteira, na qualidade de produto, controle de
processo, logística, atendimento ao cliente, enfim, é um dos atores principais.
Para ilustrar nossas atividades naquele dia, eu havia preparado (com a
inestimável ajuda dos meus amigos do Laboratório Regional) uma série de corpos
de prova para demonstrar dois fatores que podem levar a uma interpretação
equivocada dos resultados de resistência à compressão de corpos de prova
cilíndricos de concreto.
O
primeiro deles é a adição indiscriminada de água que, infelizmente, é um
problema recorrente nas obras. Normalmente, ocorre de se decidir por um
concreto de slump menor, pensando no custo do concreto isoladamente e quando
chega o momento da execução as dificuldades de concretagem aparecem. Ao invés
de se interromper o trabalho e se decidir por uma nova formulação, com slump
maior, o que acaba ocorrendo é a adição de água para além dos limites da tabela
de traço. Este é um tema sempre abordado em treinamentos, procedimentos e
relatórios mas, confesso, nunca tinha realizado um experimento específico para
medir este efeito. O que eu tinha eram dados teóricos deduzidos de experimentos
de laboratório para outros fins.
Então, tomei um concreto fck 30,0 MPa e dele moldei 5 corpos de prova. O primeiro moldei na condição de slump ideal, recém saído do processo de carregamento. Depois, adicionei dosagens de água suplementar diversas, de 10 a 40 litros por metro cúbico de concreto. Na data do treinamento eles estavam com a idade de 12 dias e todos tinham sido mantidos nas mesmas condições até o momento da demonstração. Os resultados dos ensaio de resistência à compressão foram:
Condição
|
fc12d
(MPa)
|
Agua
do traço
|
27,7
|
+10
l/m³
|
24,8
|
+20
l/m³
|
22,4
|
+30
l/m³
|
22,3
|
+40
l/m³
|
19,1
|
Obviamente
este é um teste isolado, feito em um corpo de prova para cada situação e sem
suporte para uma análise estatística. Mas cumpriu bem sua proposta, que era
sensibilizar para o grave efeito da adição excessiva de água na obra. Salvo o
quarto CP, com resultado anômalo, cada 10 L de água custou entre 2 e 3 MPa de
resistência. E cada 10 L de água por m³ é apenas o suficiente para elevar o slump
do concreto em cerca de 2 cm!
O
segundo aspecto explorado na demonstração foram os defeitos de moldagem de
corpos de prova. Da mesma amostra de concreto com água correta do traço, tirei
outros quatro corpos de prova com defeitos deliberados: Um foi deixado
inclinado, de modo a prejudicar o paralelismo entre as faces. Outro foi moldado
de uma amostra segregada, com menor concentração de brita que o concreto ideal.
Em outro foi eliminado cerca de 20% da área de contato da face superior. E o
último foi moldado sem a aplicação de golpes com a haste de compactação.
Corpos de prova defeituosos
Abaixo,
os resultados:
Condição
|
fc12d
(MPa)
|
Padrão
|
27,7
|
-
20% de área
|
29,6
|
Segregado
|
16,4
|
Inclinado
|
23,5
|
Sem
adensamento
|
18,4
|
Mais
uma vez, o reduzido número de amostras prejudicou um resultado, afinal quando
se elimina a área de contato de um corpo de prova com a prensa não é de se
esperar que o resultado seja maior. Mas oura vez foi possível demonstrar que os
erros mais comuns de moldagem afetam de forma muito expressiva os resultados. Afinal,
não é incomum se observar corpos de prova tortos, com vazios por falta de
adensamento, com marcas de dedo na face superior ou coletados de uma amostra de
concreto não representativa.
Fica
então esta ilustração de dois problemas que são motivo de grandes preocupações, até
hoje, no controle tecnológico de concreto. Um prejudica a qualidade
do material. Outro, prejudica a qualidade do ensaio que deveria medir a
qualidade do material. Observem como os erros de moldagem do CP podem levar a
perdas mais severas até que a alteração do fator água / cimento. Em breve,
vamos ter aqui um brilhante texto do Prof. Esdras de França, tratando do tema
dos corpos de prova de uma forma mais completa e com a costumeira genialidade
do mestre.
Muito bom o texto. Assunto simples na engenharia civil porém muito importante no dia a dia, que deve ser sempre lembrado. É só ler a NBR pertinente antes: 5768.
ResponderExcluirCaro Manoel! Pela primeira vez estou tendo a oportunidade de participar de uma comissao normativa do CB18. E pude perceber o quao arduo e serio e o trabalho para edicao de uma norma. Voce tem toda a razao, nos deveriamos nos atentar as normas vigentes antes de se iniciar um trabalho. Elas sao um parametro solido para evitar desventuras! Muito obrigado pela visita e sinta-se sempre em casa!
ExcluirOlá Carlos, prazer está comentando mais uma vez.
ResponderExcluirNão é raro depararmos com resultados de ensaio de resistência à compressão não característicos, seja pelo aumento da relação água cimento mesmo com o slump dentro dos limites (diminuição módulo de finura), vazios na pasta de enxofre diminuindo a área de contato, velocidade de aplicação da carga no corpo de prova. Este último é tratado na NBR 5739 (ABNT, 2007), onde a velocidade deve ser de (0,45 +- 0,15) Mpa por segundo. Quando se utiliza prensa manual é muito importante que o operador aplique a carga na velocidade padrão, por isso montamos uma tabelinha da marcha de ensaio de acordo com os limites da norma, como segue abaixo:
Força prensa (tf)
Tempo(s) Mínimo Médio Máximo
5 1,16 1,73 2,31
10 2,31 3,47 4,62
15 3,47 5,20 6,93
20 4,62 6,93 9,24
25 5,78 8,66 11,55
30 6,93 10,40 13,86
35 8,09 12,13 16,17
40 9,24 13,86 18,49
45 10,40 15,60 20,80
50 11,55 17,33 23,11
55 12,71 19,06 25,42
60 13,86 20,80 27,73
65 15,02 22,53 30,04
70 16,17 24,26 32,35
75 17,33 25,99 34,66
80 18,49 27,73 36,97
85 19,64 29,46 39,28
90 20,80 31,19 41,59
95 21,95 32,93 43,90
100 23,11 34,66 46,21
105 24,26 36,39 48,52
110 25,42 38,13 50,83
115 26,57 39,86 53,14
120 27,73 41,59 55,46
Um grande abraço!
E mais uma vez, e um prazer genuino receber teu comentario! Excelente lembranca a respeito da velocidade de carregamento. Adorei a planilha tambem. Com sua licenca, vou indica-la la na Companhia com teu nome! Se um dia voce animar de escrever uma postagem aqui, por favor fique a vontade pra me enviar. Forte abraco!
ExcluirBoa Tarde, tenho uma dúvida em relação aos tipos de ruptura que ocorrem nos corpos de prova. A NBR 5739 mostra uma figura que contém os tipos de ruptura, porém, ela não explica os motivos dessas rupturas serem umas diferentes das outras. Você pode me responder isso?
ResponderExcluirEntão, a forma de ruptura diz muito sobre como a tensão se distribuiu na área de contato do cp e, com isso, indica se a leitura de resistência foi realmente a máxima possível para aquele exemplar. A diferença é justamente essa. Alguns planos de fratura indicam distribuição de tensão excêntrica ou irregular, o que indica que você leu menos do que o corpo de prova poderia ter resistido de carga. Abraços!
ExcluirTexto muito bom, me ajudou em algumas dúvidas!
ResponderExcluirFico muito feliz! Um forte abraço!
ExcluirBom dia, gostaria de saber se você tem um check list para a área da dosagem na usina de concreto. Obrigada
ResponderExcluirPara quem precisar de Concreto Usinado, veja que bacana: https://www.concretousinado.com.br/
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