Quando eu trabalhava com
construção, comprava a maior parte do concreto que usávamos nas obras. E
naquela época, da mesma forma que um grande número de pessoas que compra concreto
hoje, achava que a concreteira era obrigada a me enviar os laudos dos corpos de
prova por eles preparados e ensaiados e que isso me bastaria. Eu não poderia
estar mais enganado. Hoje sei que o ideal é, mesmo quando comprar o concreto,
realizar o meu próprio controle tecnológico.
A normalização brasileira,
através da ABNT NBR 12655 quando discorre sobre as responsabilidades, atribui
ao construtor ou a seu preposto, o papel de realizar os ensaios para aceitação
e validação do concreto. Dentre eles esta o ensaio de determinação da resistência à
compressão. Neste ponto, é preciso mencionar que a norma foi muito sábia,
porque parte do princípio de que mesmo que exista a boa fé, não se pode contar
com ela quando o assunto é a segurança estrutural. Em outras palavras, como eu
costumo dizer, não se pode perguntar ao padeiro se o pão de sua padaria é
saboroso. O mais prudente é pedir a outra pessoa para provar do pão.
Se você confia na concreteira que lhe presta serviço, continue confiando. Mas contrate
também um laboratório terceiro para a realização do controle tecnológico do concreto.
Para começar os ensaios
realizados pela concreteira, na maioria das vezes, são realizados em número insuficiente
para cobrir todo o dimensionamento de lotes da tua obra. A norma
que orienta o controle tecnológico da concreteira é a ABNT
NBR 7212, que discorre sobre os cuidados a serem tomados na produção de concreto
dosado em central. Nela, o objetivo do controle tecnológico é determinar se o processo de produção de
concreto atende aos parâmetros de qualidade requeridos. Não há análise estatística
de cada fornecimento, mas sim do total da produção de um dado período.
Existem vários outros benefícios do controle personalizado (feito por laboratório contratado), como a obtenção imediata dos resultados, a possibilidade de se determinar ensaios em idades iniciais (para planejamento de descimbramento, por exemplo), preparar corpos de prova excedentes por segurança, receber um parecer especializado, enfim, planejar do teu jeito.
Existem vários outros benefícios do controle personalizado (feito por laboratório contratado), como a obtenção imediata dos resultados, a possibilidade de se determinar ensaios em idades iniciais (para planejamento de descimbramento, por exemplo), preparar corpos de prova excedentes por segurança, receber um parecer especializado, enfim, planejar do teu jeito.
Entretanto, o controle
tecnológico deve ser deixado nas mãos de uma empresa séria, que garanta que
seja bem feito. Do contrário, pode ser o início de um sério problema. Tudo
porque, hoje em dia, ainda se dá pouco valor a este serviço. Muitos construtores
ainda optam pelo método ou pela empresa de consultoria que requerer o menor
valor pela moldagem, transporte, cura, preparação, ensaio e interpretação dos
resultados dos corpos de prova. E entre essas etapas, pequenas e cumulativas
falhas podem levar a seríssimos prejuízos aos corpos de prova ou ao ensaio de
resistência, levando a falsas interpretações e muita dor de cabeça.
Abaixo, seguem alguns cuidados
indispensáveis quando o assunto é o ensaio de Resistência à Compressão do Concreto.
Cabe ao construtor selecionar o laboratório que irá lhe atender e fiscalizar
todas as etapas, tendo estas dicas em mente:
Conhecer o método de ensaio
Em primeiro lugar deve-se
conhecer e respeitar as normas que determinam os procedimentos de moldagem e ensaio
das provas, no caso as ABNT NBR 5738 e 5739, respectivamente. Recomendo que o
construtor tenha exemplares na obra à disposição do corpo técnico e use-as como
tema de treinamentos. Os profissionais que irão se responsabilizar pelos corpos
de prova devem ser muito bem treinados e fiscalizados. É muito comum, por questões
de custo ou carência de mão de obra, o construtor realizar as moldagens dos
corpos de prova e às vezes incorporar também as etapas de cura e transporte.
Nada contra, mas é preciso ter certeza da perícia e responsabilidade da equipe.
Prover os recursos necessários
É preciso determinar um local na
obra específico para a preparação e cuidado das provas. É preciso proteger do
sol, garantir um piso plano, fornecer água, equipamentos para limpeza de formas,
lubrificantes adequados, e todas as ferramentas requeridas. Deve-se cobrar
constantemente a limpeza e ordem do local de trabalho. Além da garantia da
qualidade técnica dos ensaios, quando o construtor demonstra a preocupação com
este trabalho, através do investimento em uma boa estrutura, os funcionários
percebem a importância daquela tarefe e fazem com cuidado. Do contrário, se
perceberem que o próprio patrão não se importa com aquilo, eles podem negligenciar
procedimentos determinantes para a qualidade.
A coleta das amostras de concreto
Deve-se coletar próximo à metade
do volume descarregado do caminhão. O volume de concreto coletado deve ser bem maior que
o necessário para preencher as formas de corpos de prova. A coleta deve ser
feita direto da calha do caminhão. É muito comum se usar uma pá para desviar o
concreto enquanto é despejado na câmara de coleta da bomba, durante o
lançamento. Isso favorece a segregação e a amostra coletada não é
representativa. Durante a moldagem, a cada novo corpo de prova, o moldador deve
misturar novamente o concreto de modo a manter a homogeneidade da amostra.
Deve-se realizar a moldagem o mais rápido possível após a coleta do concreto e
evitar mantê-lo sob chuva, sol forte ou agentes contaminantes diversos.
Cuidados com os corpos de prova
As formas precisam estar limpas,
integras e em conformidade com as dimensões requeridas. A lubrificação é muito
importante, para garantir a desforma sem agressões. A sequência de
preenchimento, com o correto número de camadas e golpes e a forma de se
compactar o concreto é muito importante. O acabamento do topo é imprescindível
e para tal eu recomendo a adoção da colher de pedreiro como a ferramenta
padrão. Os corpos de prova (CP) moldados devem ser mantidos à sombra e totalmente
planos, evitando serem movidos no período correspondente entre o fim de pega do
cimento e a idade de 24 horas. A desforma deve ser realizada no tempo certo,
nem mais cedo nem com atraso excessivo e sem danos aos CP. A identificação deve
ser feita o mais rápido possível para não adiar desnecessariamente a cura.
Transporte e Cura
A cura deve iniciar imediatamente
após a desforma. Eu sou partidário de que os CP devam ser transportados ainda dentro
das formas e desformados no laboratório. Mas se optar por desformar na obra o
construtor deve garantir todos os cuidados inerentes a esta operação, prover um
tanque de cura e transportar os CPs o mais tarde possível, próximo da data de
ensaio e muito bem protegidos de choques. Para a cura, recomendo o básico: um
tanque de água saturada com cal. Já vi experimentos com cura química, mantas
umedecidas, aspersão... Esqueçam. Neste caso o mais simples é sempre o mais assertivo.
Preparação de topo
Estamos em uma época em que o
enxofre está sendo banido dos laboratórios e substituído por outros métodos. Eu
já testei ou observei praticamente todos e posso afirmar que mesmo os que
funcionam tão bem como o capeamento com enxofre requerem cuidados adicionais às
vezes negligenciados. E comparado com o longo tempo em que o enxofre veio sendo
usado, ainda são de certa forma experimentais, guardadas as devidas proporções.
Quando o enxofre não for possível, o meu método favorito é o neoprene, na dureza
correta, com o “capacete” correto e precedido da retificação mecânica do topo.
O Ensaio
O cuidado com o equipamento é muito importante, como
a calibração a manutenção da máquina de ensaio. Mas o mais importante é o
Laboratorista. Este deve saber interpretar as minucias do ensaio, como os planos
de ruptura dos CPs, a velocidade de carregamento, a centralização do CP no
prato da máquina, o momento exato da ruptura total, enfim, deve ser um perito no assunto.
Quando estes cuidados não são
tomados, os desdobramentos são muito mais onerosos e desgastantes que o próprio
ensaio. Já vi muitas vezes serem lançadas dúvidas sobre a estabilidade de
estruturas que estavam perfeitas e a algumas delas vi demolir. É preciso
considerar que o custo percentual do controle tecnológico é muito pequeno
quando comparado com o custo total de processos como extrações de testemunhos,
revisões de projetos e reforços estruturais. Sem falar no desconforto e stress
psicológico que é lidar com a dúvida sobre a segurança do teu empreendimento inteiro,
por causa de uma coisa tão pequena e aparentemente tão simples como um corpo de
prova de concreto.
Você tem fotos de muros feitos com esses cilindros? Gostaria de usar em atividade de um livro didático de matemática.
ResponderExcluirGislaine, vou tentar tirar algumas especialmente pra voce!
ExcluirCaro Carlos, na NBR 5738, fala sobre capeamento e retificação de corpos de prova cilíndricos, contudo o você me diz sobre retificação associada a utilização de neoprene, afinal, queremos uma planicidade 100%, para evitarmos rupturas do tipo cisalhada.
ResponderExcluirDiego, em breve terei resultados de comparativos, eu espero. Mas algo que ja notei e que quando prendemos os cps nas retificas, devido a pequenas deformidades nas laterais dos cilindros, eles podem nao ficar perfeitamente paralelos. Claro que depende do tipo de maquina, mas se o cp for muito fragil, com fck mais alto, costumam haver fraturas colunares ou de topo. O neoprene ajudaria a tolerar esse "desaforo", rs.
ExcluirEntão, faceamento associado a utilização de neoprene é legal conforme a norma.
ExcluirCarlos, Temos um problema normativo, pois, no escopo da NBR 7212, diz o seguinte: Esta Norma estabelece os requisitos para a execução de concreto dosado em central e inclui as operações de armazenamento dos materiais, dosagem, mistura, transporte, recebimento, controle de qualidade e inspeção, incluindo critérios de aceitação e rejeição do controle INTERNO da central de concreto., ou seja, se a norma fala de controle interno, posso moldar meus corpos de prova na central (usina), que vou estar atendendo o requisitos de moldagem da norma?
ResponderExcluirCara, isso e uma tremenda polemica! Minha opiniao e que tudo depende da finalidade a que o controle se propoe. Se voce fizer as cargas com slump correto, dentro da central e teu interesse e obter dados para medir desvio padrao de dosagem, nao vejo problemas. Mas ai teu controle de entrega precisara ser perfeito. Porque se houver um litigio, seremos cobrados pelo valor do testemunho extraido o que, muitas vezes, e bastante injusto...
ExcluirObrigado pela resposta
ExcluirCarlos, que maravilha descobri o seu blog. Estou literalmente encantada. Quando lançará novos artigos? Que tal falar das mudanças trazidas nas NBRs 5738 e 12655?
ResponderExcluirGrande abraço!
Querida Marcimilia, acredite, maravilha é ter você por aqui! Tens toda a razão em me perguntar, rs, eu mesmo já ensaiei voltar várias vezes. Mas o novo trabalho, muito mais restritivo em termos de tempo e o belo garotinho de 10 meses que agora eu tenho têm me tirado do teclado, todas as vezes que começo um texto... Mas voltarei sim. Estou trabalhando no assunto "exsudação" e em breve postarei aqui. E adorei o tema das normas. Tem, realmente, muita coisa nova neste processo de modernização pelo qual estão passando os conteúdos do CB18. Saiba que a casa é sua, podes contribuir com o que quiser e estarei sempre a tua disposição. Forte abraço!
ExcluirBoa tarde,
ResponderExcluirNa norma de rompimento de CP, fala que o rompimento deve ser feito o mais próximo da cura. Porém, já vi vários professores falando que na prática o CP é retirado da câmara de cura 24h antes do rompimento. Poderia me esclarecer isso?