O
meu bom e recente amigo Gleyber, formando do curso de Engenharia Civil da
Escola de Engenharia Kenedy, em Belo Horizonte, me fez uma pergunta muito
importante a algumas horas, precedida da seguinte colocação:
“...o tempo correto de lançamento de um concreto usinado
( convencional), conforme a NBR 7212 é de 150 min ou 2 H e 30', após a 1ª
adição de água...Porém é comum escutar de alguns motoristas de betoneira que é
de 3 Horas. “
Já
deu pra adivinhar a pergunta, não é? Afinal, qual é o tempo de “validade” do
concreto? Seguir a norma, nestes casos é muito bom. Mas é ainda mais importante
entender exatamente os processos que levam à deterioração da qualidade do
concreto, devido à demora na aplicação. O concreto é um material perecível,
todos sabemos. Mas entender os motivos é imperativo para uma boa tomada de
decisão. Basicamente, dois são os motivos pelos quais ele perde a sua “validade”:
1. Início de pega;
2. Perda de plasticidade.
Ensaio de Vicat, para determinar o tempo de pega
O
início de pega é o momento em que se iniciam as reações de cristalização do
cimento. Neste momento, os grão de cimento que estavam sendo lentamente
hidratados começam a passar por uma reação química onde os compostos de
Silicatos e Aluminatos de Cálcio se desassociam, se recombinam com a água e se transformam
em estruturas cristalinas como os Hidróxidos de Cálcio e as Etringitas. Essas
reações são chamadas de “Pega”. Neste momento, a pasta de cimento começa a
literalmente endurecer. Se, a partir do momento do início de pega o concreto
for misturado, lançado e vibrado, as reações serão prejudicadas e o cimento só
atingirá parcialmente seu potencial de resistência. Isso é muito perigoso,
levando a redução muito significativa no valor dos ensaios à compressão. É fácil
observar os sintomas da pega no concreto, porque esta é uma reação exotérmica,
ou seja, gera grande quantidade de calor.
A
perda de plasticidade é o fenômeno de progressiva redução do slump com o tempo.
Ou seja, o concreto vai se tornando mais e mais consistente, menos fluido,
menos trabalhável. No caminhão betoneira, isso pode acontecer devido à
evaporação natural da água ou devido à perda de eficiência do aditivo.
Praticamente todos os concretos vendidos por concreteiras possuem determinadas
dosagens de aditivos “Plastificantes”, capazes de reduzir a necessidade de água
do concreto. Estes aditivos fazem com que o slump suba pela ação de processos físico-químicos
que têm ação limitada no tempo, ou seja, quando acaba o tempo de ação do
aditivo o concreto volta a ter o slump anterior à adição do aditivo.
Neste
ponto, fica mais fácil entender bem o processo e suas limitações. O tempo de
pega, que é característico do tipo e marca do cimento, pode ser facilmente prolongado
pela ação de aditivos retardadores de pega, também largamente usados em toda concreteira.
O principal problema está na perda de plasticidade. Hora, se o concreto chega
na obra com slump 12 cm, por exemplo, e cerca de uma hora e meia depois ele
está com slump 5, não há problema algum em continuar usando, se o tempo de
início de pega ainda não foi atingido. Mas será que alguém realmente continua
lançando com 5 cm? Ou será que se coloca mais água pra recuperar a plasticidade
original?
É
aí que está o perigo. Quando o efeito do aditivo é substituído por água,
obviamente o fator a/c será sensivelmente alterado, comprometendo a
resistência. Então o tempo limite de uso do concreto deve ser definido de
acordo com todo o conjunto de fatores relevantes:
·
Tempo
de pega, segundo o efeito do tipo de aditivo;
·
Tempo
de manutenção de plasticidade permitido pelo aditivo. Entende-se por manutenção
de plasticidade a obtenção de, pelo menos, o limite inferior do slump;
·
Clima
e horário da concretagem. Temperatura, umidade do ar, exposição ao sol, tudo
isso corrobora para mudar o tempo de validade do concreto;
·
Critérios
de produtividade de equipamento. Algumas vezes torna-se economicamente inviável
a permanência do betoneira por longos períodos;
Então,
meu caro Gleyber, infelizmente não posso responder à tua excelente pergunta. Ela
deverá ser direcionada ao Tecnologista da Concreteira. Só ele conhece o traço,
os aditivos, o tempo de pega do cimento. Só ele realiza o experimento de
laboratório, mede a perda de plasticidade. Só ele conhece os coeficientes de
segurança e os critérios de produtividade de máquina. Se o teu caso for
especial, solicite a ele um traço e um processo de concretagem que atenda ao
tempo prolongado requerido pela tua obra. Agora, se você não obtiver uma
resposta satisfatória, ou se sentir inseguro, siga a norma. É teu direito.
Espero ter sido útil a você e demais colegas leitores. Forte abraço!