Peço licença aos colegas mais bem
informados sobre o tema, para fazer uma analogia que tenho o costume de usar, para
explicar em meus treinamentos oque é o Modulo de Elasticidade do Concreto (Ec).
Todos se lembram do segundo grau, quando a professora de física desenhava o
diagrama abaixo no quadro:
Ela explicava que o valor do
deslocamento que a mola sofria, era função da força aplicada (m*a) e do
coeficiente de elasticidade da mola (k). Ela provavelmente continuava
desenhando um segundo diagrama, onde a massa era a mesma, mas o deslocamento na
segunda mola era maior, mostrando que seu coeficiente de elasticidade era
menor.
O concreto, assim como as molas,
também se deforma sobre a ação de forças, sem que isso necessariamente coincida
com a sua ruptura. Assim como as molas, o concreto sofre deformação elástica (deforma-se
mantendo a capacidade de retroceder à posição inicial) ou plástica (quando não
é mais capaz de reassumir a forma original, sessado o esforço). A diferença
mais evidente entre as molas e o concreto é a quantidade de deformação possível.
No concreto, os deslocamentos são sub-milimétricos quando o esforço aplicado é
axial (na compressão, por exemplo). Em termos percentuais não ultrapassa 0,3%
(três por mil), atingindo a ruptura neste limite de deformação.
A deformação é pequena, mas
existe. E quando do dimensionamento das estruturas, conhecer esta quantidade
física é muito importante. Quem já foi em estádios de futebol em dias de jogos,
talvez possa dar um testemunho melhor que o meu, sobretudo se estivermos
falando do estádio “Mineirão”, famoso por seu balançar próximo ao desconforto
nas arquibancadas. E as deformações nas estruturas de concreto são
relacionadas, principalmente, a duas grandezas: O momento de inércia, que é função
da geometria da peça concretada e o Módulo de Elasticidade, Ec, que pode
simplistamente ser comparado ao coeficiente de elasticidade da mola. Ou seja, o
Ec poderia ser o “k” do concreto.
Ora, ainda aproveitando a
analogia, é perfeitamente esperado que mesmo que duas molas distintas sejam
feitas com a mesma quantidade do mesmo aço, tenham coeficientes k totalmente
distintos. Basta que hajam diferênças em seu desenho, espessura do fio, ou no modo como oferece liberdade de movimento. O fato é que
se deformarão em quantidades diferentes mesmo que a resistência do material que
as compõe seja a mesma. Outra verdade é que existem limites inferiores e
superiores para essa elasticidade, de modo que existem molas hipotéticas “moles”
demais ou “duras” demais para serem produzidas. Parece que com o concreto
acontece a mesma coisa.
No primeiro caso, está se
tornando um consenso que concretos de mesmo fc (resistência à compressão) podem
ter diferentes valores de Ec. Essas diferenças podem ter origens diversas. O Mestre
Esdras de França, certa vez investigou como diversas origens mineralógicas
usadas como agregados no concreto afetam o Ec. Eu mesmo pude estudar o que
acontece quando variamos a granulometria dos agregados e a proporção entre
agregados miúdos e graúdos. O que eu vi é que estas variações afetam mais o Ec
que o fc. E acredito existirem ainda outras influências como a qualidade da zona
de transição, o uso de aditivos plastificantes baseados em dispersão, relação
entre a quantidade de pasta e o índice de vazios do esqueleto granular do traço,
a adição de materiais pozolanicos e outros parâmetros que afetam também a
resistência à compressão. Porem eu acredito que a relação entre tais fatores e o Ec, é
bastante diferente.
No segundo caso, a cada dia que
passa, eu estou mais convencido de que existem assíntotas inferior e superior
para a função que relaciona o fc e o Ec. Analisando a equação proposta pelo Hugo
Monteiro, e o trabalho do meu amigo Silvio, posso ver que não importa quão
fraco seja um concreto à compressão, ele parece não apresentar um Ec inferior a
um dado limite. E não importa quanto se reduza o fator água / cimento em busca
de um fc cada vez maior, porque o Ec não vai subir proporcionalmente. A partir
de um determinado limite, cada GPa que se eleva no Ec, significa uma demanda
maior de Mpa do fc, até que não se consegue subir mais o Ec. Vez ou outra me deparei
com traços de concreto que ultrapassaram essas duas linhas psicológicas que vou
traçar agora, mas parece que na maioria das vezes o concreto tende a ter um Ec
não menor que 20 GPa e não muito maior que 35 GPa (aproximadamente). São
valores ainda muito arbitrários, careço enormemente estudar mais o tema, testar
muito mais para obter a repetibilidade necessária. Mas se eu fosse propor uma função
para relacionar as duas grandezas, (fc e Ec) tenho a impressão que seria como o
segmento de uma senóide, em forma de “S”, com limites tendendo a 20 e 35 GPa em duas
paralelas às abcissas.
Entretanto, a equação que é proposta
pela norma brasileira ainda determina uma relação linear e direta entre fc e Ec,
apesar da recente revisão. Mesmo incluindo a recomendação de que a equação
apresentada deve ser usada na ausência de experiências de laboratório isso
pode muito bem significar que eu estou completamente enganado em tudo que foi
dito acima e basta elevar o fck do concreto para se obter valores de Módulo de
Elasticidade proporcionalmente maiores. Se assim for, eu estou em uma espécie de enrascada,
porque parece que não estou conseguindo. E tenho notícias de outros colegas que
também não conseguem obter relações lineares. Então, têm acontecido coisas
bastante graves:
1. Os
projetistas determinam o uso de concretos de elevada resistência à compressão,
com fck da ordem de 35 a 50 Mpa, com a exigência de se obter valores igualmente
elevados de Módulo de Elasticidade, entre 33 e 40 GPa, aparentemente muito difíceis
de se atingir;
2. O
comprador omite a especificação de Ec do projeto, na hora de solicitar o
concreto, por esquecimento ou por acreditar ser uma simples consequência do
fck;
3. À
medida que mudam as conduções de contorno da obra, a concreteira altera o
slump, o tamanho de brita e o teor de argamassa do traço de concreto. Faz isso
para conseguir bombear cada vez mais alto, mais longe ou em locais menos
acessíveis. E faz sem a devida reavaliação do Módulo de Elasticidade;
4. Durante
a negociação, a concreteira oferece à construtora o fck solicitado, considerando
que o Ec será atingido, conforme preconizado na norma, sem verificar se está
realmente acontecendo.
Então, cabe a todos nós fazermos
nossos deveres de casa. O projetista deve se inteirar sobre os limites máximos
de Ec que as concreteiras estão obtendo, para não contar com comportamento
inatingível pelo material. Nós, concreteiros, precisamos conhecer bem o
funcionamento do nosso concreto e tratar como uma responsabilidade adicional e
não complementar ao fck. E os construtores precisam entender que nem todo
concreto que atende ao fck atende também ao Ec.
Meu caro amigo, meu sincero parabéns! A engenharia agradece a colaboração de um profissional de tamanha competência. Continue com esse excelente trabalho.
ResponderExcluirMeu caro amigo, meu sincero parabéns! A engenharia agradece a colaboração de um profissional de tamanha competência. Continue com esse excelente trabalho.
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