“Conforme previsto, um temporal atingiu
Belo Horizonte no começo da noite desta quinta-feira. A Coordenadoria Municipal
de Defesa Civil (Comdec) chegou a emitir alerta de pancadas de chuva forte
acompanhadas de rajadas de vento e descargas elétricas. O que não era estimado
é que a chuva provocasse tantos transtornos na capital mineira. Choveu mais que
o dobro do esperado e a situação se tornou caótica em várias regiões da cidade.
Houve vários pontos de alagamento ou risco iminente de inundação. Carros foram arrastados
pelas águas e pessoas ficaram ilhadas. Em uma das inundações, um homem morreu dentro do próprio veículo arrastado no Bairro Castelo.
Quedas de árvore obstruíram o tráfego de veículos em alguns bairros e houve
interrupção no fornecimento de energia elétrica. Pelo menos uma casa desabou na
capital. Cidades vizinhas também foram castigadas.”
Esta
é uma passagem da reportagem que pode ser lida no site do “O Estado de minas” (www.em.com.br),
a respeito da chuva no feriado de 15 de Novembro último. Ela vai encimada pela
fotografia abaixo, tirada na Av. Cristiano Machado, próximo ao Minas shopping.
Vários amigos meus também postaram nas redes sociais fotos e vídeos de outros trechos
alagados da cidade, a maior parte deles com críticas à prefeitura ou à falta de
educação de quem joga lixo na rua.
De
fato, o poder público pode fazer muito para minimizar este problema e evitar
mortes como a do homem da reportagem. E também aos cidadãos cabe uma parte da responsabilidade
de evitar mais tragédias, mantendo a cidade limpa e, consequentemente, os
bueiros desobstruídos. Mas quem se lembra do nome de outro vilão, também bastante
alardeado por aí? Isso mesmo a Engenharia. Nós, que ao contribuir para o
crescimento da cidade, modificamos radicalmente o regime hidrológico da região
onde a cidade se assenta. Impermeabilizando o solo e canalizando a água da
chuva, para escoadouros nem sempre bem dimensionados. Mas como evitar? Precisamos
de áreas de estacionamento, de circulações para pedestres, de moradias populares,
de espaços públicos de lazer, etc, etc, etc... Somos cada vez mais numerosos e
exigentes e gostamos de pisar no concreto para facilitar o fluxo do dia a dia.
Por
isso que eu e outros colegas ficamos tão empolgados com a tecnologia do
concreto permeável que conhecemos, através de um produto chamado “Hydromedia”.
Lá na companhia a previsão de início das pesquisas neste campo era apenas para
o ano de 2013, mas nós acabamos nos antecipando, diante do imenso potencial que
todos perceberam. Trata-se de um concreto que permite a passagem de 100% da
água incidente sobre ele, apesar de oferecer resistência e capacidade de
suporte para o tráfego de pessoas e veículos de passeio. É um concreto bastante
fluido e adaptável a áreas de qualquer dimensão e formato. Isso cria dois
campos correlatos bastante interessantes: O uso como parte integrante de
soluções completas em projetos de drenagem, ou simplesmente como um concreto
que não altera as propriedades drenantes naturais do solo abaixo dele.
Display no laboratório onde trabalho
Assim,
o Hydromedia pode vir a ser facilmente reconhecido como uma alternativa para
uso em áreas de permeabilidade obrigatória nas edificações e, porque não, mesmo
em locais livres de legislação, onde o concreto normal seria aplicável. As
versões mais atuais dos traços em que estou trabalhando têm uma velocidade de
percolação de água de cerca de 350 L/m2*min e é 25% mais leve que o concreto comum.
Apesar disso, tenho obtido resistências superiores a 20,0 Mpa na compressão
diametral e 3,0 na tração à flexão! Isso faz dele um concreto perfeitamente adaptável
em projetos de pavimento de baixa solicitação, figurando como fck 15,0 e fctm,k
2,0 Mpa. No ensaio de desgaste WTAT, realizado em parceria com a SOLOCAP
(Obrigado ao amigo Cristiano, também diretor de divulgação da Associação
Brasileira de Pavimentação), o Hydromedia não apresentou perda de massa apreciável.
No Pendulo Britânico foi classificado como uma superfície de boa rugosidade
para evitar derrapagens de veículo.
Além
da enorme velocidade de percolação da água, outra propriedade interessante é a
capacidade de retenção de água dentro da massa de concreto, como me chamou a atenção
outro dia meu amigo Rodrigo. Isso faz com que um pavimento de Hydromedia
funcione como um reservatório de água, evitando a formação de poças d’água e
dando tempo para que a evaporação e absorção do solo consumam com a água. Um
pavimento de 10 cm de espessura, por exemplo, é capaz de conter uma lâmina d’água
de até 3 cm. É o suficiente para permitir que você desça do carro com o sapato
seco depois de uma chuva torrencial, mesmo se o solo abaixo for totalmente
impermeável.
E
se as vagas de garagem dos estacionamentos de todos os supermercados fossem
feitas de Hydromedia? E as calçadas no entorno das avenidas maiores? E as
praças com playground e aparelhos de ginastica? O Arcindo, presidente da nossa
ABESC, outro dia me disse que um dos sonhos dele é que as ciclovias das cidades
fossem feitas de concreto permeável: Mais “grip”, menos calor e ainda por cima
sustentáveis!
Mas
o mais engraçado é que até agora a maioria das aplicações que eu presenciei foi
inicialmente motivada por outro atributo do Hydromedia: Estética! Como eu dizia
pro meus gurus lá de Lyon, no Brasil estamos fazendo porque é bonito além de
funcional, uma característica pouco explorada na Europa, por exemplo. A textura
é interessante as cores são agradáveis e, não atoa, apresentamos pela primeira
vez na “Casa Cor”. E se os caros colegas Engenheiros querem uma dica, uma das
maneiras mais fáceis de emplacar uma tecnologia nova é convencendo os
Arquitetos!
O
negócio é resistente, bonito, seguro e pode ser uma grande arma na redução das
enchentes de verão, ou pelo menos uma forma de não piora-las ainda mais.
Relendo esse post eu preciso confessar que esta mesmo parecendo uma propaganda
de produto, o que não é o objetivo do blog. Mas, caramba, eu sou mesmo
apaixonado por esse concreto. É um dos que deram mais trabalho, pra mim, meu parceiro Bruno e outros, mas é um dos
mais interessantes. Fazemos tão pouco pela natureza, às vezes acho até que
fazemos mais contra que a favor. Então, quando aparece uma oportunidade de
fazer a diferença com concreto, a gente acaba se empolgando! Até a próxima.