domingo, 9 de dezembro de 2012

ABNT NBR 7212:2012: Quais as principais mudanças?


 
Há alguns dias eu assisti uma apresentação do Eng.º Hugo Renato Monteiro, Tecnologista de concreto e gerente do departamento onde eu trabalho, sobre as mudanças decorrentes da reedição da Norma NBR 7212, neste ano de 2012. Esta norma, cujo título é “Execução de Concreto Dosado em Central”, estabelece todos os critérios para produção de concreto em empresas prestadoras de serviços de concretagem, as chamadas “concreteiras” e tinha sua ultima edição datada do ano de 1984. Como esta norma estabelece também várias interferências na maneira como os construtores são atendidos pelas concreteiras, vale a pena dar uma olhada se você trabalha com alguma atividade ligada à construção civil. Vai aqui um resumo dos tópicos apresentados pelo Hugo, cada um discorrendo sobre uma mudança significativa entre as versões 1984 e 2012 da norma:

 
ADIÇÃO SUPLEMENTAR DE ÁGUA NA OBRA


Bom, todos nós sabemos que, ao se tomar a decisão de adicionar água para além da dosagem estabelecida no traço, com a finalidade de solucionar problemas operacionais durante a concretagem, corre-se um sério risco de comprometimento da resistência do concreto. E normalmente, quando isso ocorre, a concreteira orienta aos seus funcionários que colham assinatura do responsável pela obra autorizando a referida adição. Mas até esta revisão, não havia uma oficialização normativa desta prática. O texto de 2012, no entanto, determina que as responsabilidades da concreteira em relação à resistência (praticamente) deixam de existir. Neste ponto, a dica é: Faça um planejamento adequado do slump do concreto, conforme a fase da obra, garantindo a trabalhabilidade necessária. Note que, quanto mais alto se bombeia um concreto, maior a perda de slump dentro das tubulações das bombas e o concreto pode chegar ao destino duro demais para ser trabalhado. O uso de concreto auto adensável, pode ser uma ideia excelente.

 
TEMPOS DE TRANSPORTE E USO

 

 
Sabemos, também, que o concreto tem um prazo de validade. Este prazo sempre foi determinado pela concreteira, em acordo com a construtora, conforme a distancia da obra, o tipo de aditivo disponível e outros parâmetros. Mas agora existem limites de tempo especificados: A concreteira terá 60 minutos para produção e transporte; O tempo de espera do caminhão na obra, antes da descarga, esta limitado a 30 minutos; O lançamento deverá ocorrer em no máximo 60 minutos. Totalizando, duas horas e meia a partir do momento da dosagem na central. Bom, estes números estão até bastante coerentes com o que costuma acontecer no dia a dia. Mas vale conceder um cuidado adicional ao planejamento das concretagens, para evitar que esses limites sejam excedidos.

 
CLASSES DE CONSISTÊNCIA (SLUMP)
 

Esta é uma mudança radical e depende de uma mudança cultural, em minha opinião. Hoje se tem uma liberdade muito grande na especificação do slump do concreto e usa-se este parâmetro como um limitador de custo e de qualidade. Agora, a consistência esta limitada pela norma em classes distintas, cada qual relacionada a uma faixa de slump bastante distendida:

 
Classe                           Faixa de Slump

S10                               de 10 a 50 mm
S50                                        de 50 a 100 mm
S100                                      de 100 a 160 mm
S160                                      de 160 a 220 mm
S220                                      maior que 220 mm
 


Acredito que o que vai acontecer, na prática, é a preparação do traço para o slump superior da faixa. O construtor deverá ficar atento se o limite inferior atende às exigências da concretagem e acabamento da peça. Porque o concreto sofrerá, naturalmente, uma perda de abatimento que agora está prevista dentro da faixa de variação de cada classe. Este é um ponto polêmico, já que um slump maior implica em um preço também maior para o concreto.

 
MOLDAGENS DE CORPOS DE PROVA
 

Neste ponto há uma aproximação com a NBR 12655, que é a norma adotada pelo construtor. A nova 7212 estabelece que as concreteiras devam, também, formar os seus lotes de moldagens dentro do limite de 50 m3. Já era uma prática entre as concreteiras a adoção de volumes até menores e isso não deve mudar muita coisa.


CONTROLE ESTATÍSTICO
 

Aqui as mudanças são bastante significativas. Em primeiro lugar, as concreteiras ficam orientadas a dividir o concreto fornecido em dois grupos: Agrupamento I – Classes de resistência entre 20 e 35 e Agrupamento II – Classes entre 40 e 60. A base para cálculo da média transposta sobe de 20 para 25 Mpa, espelhando a tendência natural da elevação do fck médio ao longo dos anos.

 
O desvio padrão classifica a concreteira em 4 níveis:
 

Nível 1                 Desvio Padrão até 3 Mpa
Nível 2                       Desvio Padrão entre 3 e 4 Mpa
Nível 3                       Desvio Padrão entre 4 e 5 Mpa
Nível 4                       Desvio Padrão maior que 5 Mpa
 

E foram estabelecidos limites mínimos de resistência média transposta, conforme o desvio padrão observado no período de controle. Ou seja, há agora uma correlação entre média e desvio, para garantir a probabilidade de ocorrência de fc < fck dentro dos limites estatísticos máximos toleráveis. Então, não adianta mais a concreteira ter valores elevados de média, se o desvio padrão, e portanto a qualidade do processo, não estiver sob controle. As concreteiras que não têm uma cultura de controle de qualidade dos seus processos precisarão investir nessa área se quiserem se enquadrar na nova norma, sem que isso se traduza em elevação dos custos de dosagem.
 

Primeiro foi a 6118, a norma dos calculistas, a se modernizar. Depois a 12655, dos construtores. Era natural que a próxima mudança aparecesse na 7212, fechando a tríade das mais importantes normas para concreto. E em todas as mudanças a tônica parece ter sido a mesma: A garantia de qualidade e durabilidade das estruturas, melhorando a segurança das nossas obras. O mundo muda muito rápido, a tecnologia trás coisas novas o tempo todo e as normas precisam, realmente, acompanhar esta dinâmica. Cabe a nós não ficarmos pra trás!

16 comentários:

  1. Cara, Acredito que este texto vai enriquecer e servir de debate para varias pessoas ligadas ao tema.
    Voce abordou de maneira pratica e muito crítica. Parabens!

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    1. Obrigado meu amigo! Tenho certeza de que ainda teremos muito debate sobre o tema. Grande abraco!

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  2. Muito bom o texto. Conheci seu blog agora, estou impressionado.

    Ainda não tive acesso a nova NBR 7212. Gostaria de tirar uma dúvida com relação ao Slump.

    Anteriormente quando eu pedia um concreto com slump 120mm, havia uma tolerância de +-20mm. Ou seja, se o slump estivesse entre 100 e 140mm ele estaria aceitável.

    Pelo o que eu entendi, agora, se eu pedir o slump 120mm, posso aceitar o slump com qualquer valor entre 100 e 160mm?


    Essa adição suplementar de água que você mencionou, é a mesma adição que a norma antiga permitia para correção do slump, antes da descarga, em caso de evaporação, certo?

    Ouvi dizer que agora, para o caso acima citado, caso a concreteira queira corrigir o slump terá que utilizar aditivo superplastificante. Procede?

    Grato

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  3. Prezado Pedro! E uma grande alegria pra mim saber que gostou do Blog. Esta sendo muito gratificante escrever por aqui. Entao, essa coisa do slump e uma questao nao so tecnica como tambem cultural. No Brasil, nos sempre usamos o slump test como parametro de qualidade, ate por desconfianca em relacao a concreteira. Parece que a nova norma quer tornar a trabalhabilidade uma questao mais operacional, dando inclusive mais liberdade para uso tambem de aditivos superplastificantes. Mas isso e algo que eu preciso ainda entender, talvez conversando com quem participe do CB18. As concreteiras ainda nao mudaram as especificacoes de slump, parece que todos ainda aguardam quem vai comecar... Mas quando comecar, acho que todos irao praticar o limite superior e os tracos serao dimensionados pata tal.

    Quanto a agua adicional, eu me refiro realmente a estourar o slump propositalmente, por ter comprado um concreto com faixa de slump menor que o ideal pra obra. A agua retida da dosagem ainda podera ser usada sem problemas, preservando o limite superior de slump. O ajuste na obra pode ser feito com agua ainda e o uso de superplastificante e opcional. Por falar nisso, tenho me interessado por naftaleno em po, para uso em casos assim. Quando eu testar, divulgo por aqui.

    Forte abraco!

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  4. Pessoal estou tempo que realizar trabalho no SGQ e preciso inserir o tempo de aceitação do concreto apartir do momento em que ele sai da usina ate ser utilizado na obra. onde consigo baixar esta nbr

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    1. Bom receber voce Mateus! Entao, as NBRs sao sempre adquiridas na ABNT, podendo-se comprar copias eletronicas no abnt.org.br. Deixando de lado a hipocrisia (rs), ja dei uma olhada se achava uma copia gratuita. Mas nao achei nao...

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  5. Ola Carlos
    Tenho a 7212/84 mas a empresa adquiriu a norma hoje, assim que a mesma estiver liberada e hora de brigar com Laboratório que diz que o tempo do concreto e de 3:30. Mas fico muito agradecido pela ajuda. Abraços

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  6. Uma coisa importante pra voce ter em mente, e que a norma te garante um tempo minimo para uso. Mas se a concreteira ou o laboratorio te der garantias de um tempo maior, use-o! Mas pegue a garantia por escrito, claro, rs!

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  7. Show de bola!
    Gostei muito do seu blog!
    Um grande Abraço.
    João Magalhães - Lafarge

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  8. QUAL E A ALTURA MAXIMA PERMITIDA PARA LANÇAMENTO DE CONCRETO CONVENCIONAL COM USO EM PILARES ?

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    1. Caro Assuerio, curiosamente, a NBR 14931, que trata da execução das estruturas de concreto, não há uma definição máxima para a altura de concretagem. Ela entretanto, discorre sobre vários cuidados a serem tomados e diz que os cuidados devem ser intensificados quando a altura for superior a 2 m.

      Forte abraço!

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  9. muito boa a sua abordagem, gostaria de ver alguma coisa sobre moldagens de corpos de prova, atualmente varias usinas estão usando a chamada moldagem remota.

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    1. Caro amigo! Obrigado por tua presença aqui! se der uma olhada em outras publicações aqui do blog, verás que há algum conteúdo sobre moldagens de corpos de prova, incluindo um excelente texto do mestre Esdras de França. Espero que goste. No futuro, prometo colocar mais informações. Sobre a remota, tive a oportunidade de acompanhar de perto um experimento bastante grande e abrangente, comparando-a com a moldagem in locu. e sabe de uma coisa? parece que funciona bem, se for feita com cuidado. Não seria nada mal se puséssemos tê-la em texto normativo. Abraços!

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