quinta-feira, 31 de maio de 2012

Qualquer um pode fazer. Mas será que faz direito?




Um dia desses, um amigo me disse uma frase que ele atribuiu ao grande Luiz Alfredo Falcão Bauer: “Todo mundo acha que pode fazer concreto. E o pior, é que faz mesmo!” Não sei se o grande mestre realmente disse isso, mas, de qualquer forma, é um ditado que nos faz pensar. Quando comecei a trabalhar na engenharia, então recém-formado do curso técnico de Edificações do CEFET MG, já tinha uma boa noção sobre a tecnologia do concreto, graças ao fato de ter sido pupilo de Esdras de França, outro gigante da engenharia do concreto no Brasil. Mas a maioria de nós engenheiros recebe no curso superior informações muito superficiais sobre este material tão importante. E muitos de nós permanecemos anos exercendo a profissão, sem tomar contato com conceitos muito importantes sobre o tema.

Mas ora essa, porque nos preocuparmos com isso, já que estamos falando de algo tão simples, que “todo mundo” é capaz de fazer, como o concreto? Realmente pensar na complexidade do concreto é algo realmente paradoxal. Por um lado, trata-se de uma mistura de materiais bastante comuns e de grande disponibilidade. É facilmente realizada com equipamentos bem simples e de uso frequente nas construções, e tem aplicação relativamente pouco complicada. Enfim, todo mundo é, realmente, capaz de fazer concreto. Por outro lado, desconheço outro material de construção que tenha sido tema de tantos estudos, demandado tanto esforço em desenvolvimento e que tenha sofrido tamanha evolução técnica ao longo do tempo. Apenas para usar um exemplo simples, como de costume, o IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) editou este ano um livro que foi distribuído entre os participantes de seu 53º seminário. O Livro deste ano tem o título de “Concreto: Ciência e Tecnologia”. Não poderia ser mais direto, trata-se de um livro que fala sobre o estado atual das pesquisas e desenvolvimento técnico deste material “tão simples”. Este livro tem 1902 páginas, divididas em 2 volumes! Imaginem o trabalho para caminhar com ele pelos corredores do evento!

Hoje em dia o concreto pode resistir a temperaturas superelevadas ou ao congelamento. Pode ser totalmente impermeável, ou permitir a livre passagem da água da chuva. Pode atingir resistências com velocidade incrível, ou permanecer plástico por dias a fio. Pode ser bombeado até alturas inimagináveis e “caminhar” sozinho através das formas. Pode ser lançado embaixo d’água ou exposto como elemento arquitetônico de grande beleza. Pode eliminar a necessidade de aço. Pode ajudar a proteger o meio ambiente. Pode até deixar passar luz!

Ao longo destes 10 anos trabalhando como tecnologista de concreto eu pude aprender muita coisa sobre este produto. Acho que é o assunto sobre o qual eu mais aprendi na vida. E o maior aprendizado de todos é o de que eu ainda tenho uma infinidade a aprender sobre concreto, tamanhos são a riqueza de informações disponíveis e o potencial ainda por descobrir. E agora que tenho a chance de me dedicar com exclusividade à pesquisa, aplicada ao dia a dia real do mercado da construção, em uma das maiores empresas prestadoras de serviços de concretagem do mundo, o que pretendo é justamente tentar aprender pelo menos uma parte do que me falta. Pretendo também tentar descobrir coisas ainda novas, peças deste enorme quebra-cabeças que ainda falta montar. E em um arroubo de pretensão desmedida, pretendo também dividir um pouco dessa bagagem com os colegas que “militam” no mesmo ofício, os que são nossos clientes e parceiros, os que ajudam a construir este país e também aqueles que ainda se preparam, construindo a si mesmos para um dia entrar pra esse time.

Conto com uma visitinha tua de vez em quando, ok? A casa é nossa, então critique, contribua, corrija, compartilhe. Enfim, fique a vontade!

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